segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O que é nação ? (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Mestiço , faceiro , macumbeiro
Bato ponto no terreiro
Faço gol e sei sambar

Apenas isso não produz um brasileiro
Faces , cores , dores e desejos
que saem a trabalhar

Só eu sei o que quero da minha vida
não há despaixão tão doída
que , sozinho , eu não possa chorar

Quem foi que disse
que sou preto ou que sou branco
tão-somente um ser humano
voando no seu sonhar

Eu cresci neste mundinho
que chamaram de nação
Eu nasci "pequenininho"
não escolhi nada , não

Todos são , pra mim , estranhos
e íntimos , n'outro lugar
Porque dizem que sou parte
do chão onde eu pisar

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Olha pro Céu (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Olha pro céu !!!
Veja o Astro-Rei iluminar
Olha pro mar !!!
Ali começou a vida

Ao despontar,
o luar reacende a paixão
Olha pro céu , olha pro mar ,
olha o amor em todo lugar

Olha o Arco-Íris !
um arco de Íris firmou
Num horizonte
onde nunca alguém ousou

Olha o brilho ,
Rutila em cada olhar
Olha pra cor
que pinta a dor
Vamos olhar . . . pra não chorar

E viajar numa ilusão natural
Por um lampejo ,
sinto-me um poeta cabal

Ao viajar no mundo do meu coração
Sei que estarei
tocando as tuas mãos

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Viagens

Canto dos Orixás (Carlos Alberto de Pinho Junior)

"Camará mandou Capoeira lutar
Camará mandou Capoeira dizer Saravá . . ."

Parece que o tempo parou
quando se entregara ao ar
Jogando o jogo de Xangô
fazendo as honras à Iemanjá . . .

Não há coração tão distante
que não possa sorrir
Nem sentimento que morra
ao se ferir

Apenas siga os acordes do berimbau
O compasso das palmas
E salte como se o amanhã
já fosse o agora

Deixa ser . . .
O homem , às vezes , não sabe o que faz
Deixa ser . . .
Que a natureza é a rainha da paz

Olho você , verde horizonte
Gigante como o meu pranto ao crer
que filho meu nascerá tristonho
pois crescerá sem te conhecer

Apenas siga os acordes do berimbau
O compasso das palmas
E salte como se o amanhã
já fosse o agora

Salve !
Mareia , onda ! Mareia !
Só vive em amor um bom capoeira
Ouça o canto dos orixás
Cultive a amizade
e não morrerás


Crise , . . . (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Eu podia estar bolando
uma volta desesperada
aos braços acolhedores
aos beijos da minha amada

Restam as ações morimbundas
cadentes que tento vender
as bolsas derretem , fajutas
quanto a mirra podre pode valer ?

Pessoas perdem o teto
cortam da própria carne
arrancam três pontos d'alma
o preço ao apreço de tal liberdade

Facetas reais das notas
invisíveis escorrem
e somem n'algum lugar
não sei onde todos comem
não sei onde vou parar

Frente confusa , tonteira
a minha cabeça dói
ressaca de uma orgia financeira
O rato não avisa , rói


SOS-Natureza (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Natureza ,
vou chamar o pessoal pra te ajudar ,
estão caçando o que há e o que não há

Até o mico está com o cabelo em pé
e o leão está matando cachorro no grito
E eu grito , por favor :
Salvem a natureza . . .

A natureza de um olhar impessoal
A natureza de um sorriso natural
A natureza do teu corpo acolhedor
A natureza de um beijo de amor

A natureza de um rosto angelical
A natureza de um encontro casual
A natureza de um inocente sedutor
A natureza de tudo que tem valor

Natureza , vou chamar o pessoal pra te ajudar ,
estão caçando o que há e o que não há
Até o mico está com o cabelo em pé
e o leão está matando cachorro no grito
E eu grito , por favor :
Salvem a natureza . . .
Então , eu grito :
Por favor , salvem a natureza !


Ganância Suicida (Carlos Alberto de Pinho Junior)

O céu não é céu por acaso ,
nada foi criado num estalar de dedos
Deus não é deus por acaso ,
tudo foi criado pra enfrentarmos medos

Você sabe quento tempo levou
para saírmos do mar
para caírmos do galho

Temos que olhar pro futuro
e não parados em frente à T.V.
como espantalhos

O verde já não é tão verde
temos de cuidar do azul
O branco ? Ah , o branco está ficando nu

Pelos lados só se vê vermelho
Visão que eu não queria ter
dando mais certeza à certeza que é morrer

Deus nos acuda ,
Deus nos ajude ,
Deus , não polua !
Deus , preserve a natureza !
Cumpra todos os tratados
Não saqueie o planeta
Não faça o que nunca a gente faria

Matar o que resta de vida na fresta
da triste ironia perversa da cega ganância . . .
Suicida . . .
Suicida . . .
Suicida .


A cada despertar de manhã (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Céu azul , água cristalina
Mata silvestre , ave-de-rapina
Garsas batem as asas:
Flâmula da Liberdade
Flores desabrocham ,
Cardumes seguem viagem

O sol faz do rio o seu prisma ;
o rio , do solo , reduto ;
o solo , do Índio , refém ;
O Índio , da selva , seu mundo

A selva é a mãe-natureza
Pulmão do Quilombo Brasil
Abraça a aurora do tempo
Assim como a um corpo febril . . .

Mas , que a angústia que sinto constante ,
seja , tão somente , uma febre terçã
E que eu veja este verde horizonte
a cada despertar de manhã . . .

sábado, 8 de novembro de 2008

Ensaio de uma mente desajustada pela psicodelia de Timothy Leary (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Sou um homem do asfalto . Você é uma criança . Eu tenho o mundo nas mãos . Trajando uma jaqueta de couro , com a minha navalha no bolso , eu sou a noite . Beco por beco , vielas , cada sombra , cada passo sorrateiro , um ínfimo feixe de luz tem o meu rastro . Você chora sob o olhar do monumento . Olha pro céu e não entende . Não entende nada . Pra quê entender ?
Eu faço o meu caminho . Apenas vejo o que está à minha frente . O passado jaz nas frações que perambulam nos íons do meu inconsciente . O futuro é um livro a ser escrito por alguém . Quem vai saber ? Não posso assinar a minha própria lápide .
Você tem medo . Eu sou o medo . Um raio delineando corpos perdidos , parece ter saído dos seus lábios escarlates . Bolsas giram como uma mente atordoada . Passam como os estranhos . Táxis . Quem são ?
Vai saber ?
Nada é o que aparenta ser por essas bandas ...
Misterioso e revelador . Escuridão farsante . Minha , múltiplas . As dores de todos . Todas as dores .
A energia flui . Solitária . Onipresença inexistente . A fenda se abriu . . .
Que loucura é essa ?
Psicodelia bicolor . As palavras perderam o sentido . Os versos não se encaixam . Recortes , retalhos . Um quebra-cabeças desarrumado . Desarranjo mental .
Pessoas riem e morrem . Pessoas andam . Pessoas dentro de casas . Pessoas gozando . Pessoas em leitos . Pessoas se negando . Pessoas se anulando . Pensando . . .
Urano , Netuno , Plutão . . .
Não há o zero absoluto .
Tempo , tempo , tempo . Milésimos , centésimos , décimos de segundos . Segundos , minutos , horas . Vinte e quatro horas têm mil quatrocentos e quarenta minutos . Caramba , é muito minuto !
É . É muito .
Quantos já se passaram ? Só calculando .
Quantos estão por vir ? Previsão inviável .
Sou o dono dos meus atos . Imperador das minhas causas . Refém dos meus efeitos . . .
Sobre o quê estou falando ?
Não sei . Mas , o que importa ?
Fui traído pela descontinuidade .
Contudo , a Lua reserva-me algo . Nem bom , nem mau . O que é preciso .
E assim , trocam-se os papéis , os anéis . Nada se perde . Nada se desintegra . Dá-se somente o que importa . É importante . Valioso para alguém .
Volto ao reduto e não me reconheço . Tenho frio , tenho fome , tenho medo . Sou um menino-homem de vários nomes . Dai-me qual achares melhor .
Ruas lúgubres . Retinas famintas , respiração felina .
O deserto é o inimigo . O silêncio assusta .
Máscaras , máscaras , máscaras . . .
Caem em gemidos no adormecer das penumbras . Ausência pelos cantos do centro da cidade .
Nada é o que aparenta ser por essas bandas ...