sábado, 8 de novembro de 2008

Ensaio de uma mente desajustada pela psicodelia de Timothy Leary (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Sou um homem do asfalto . Você é uma criança . Eu tenho o mundo nas mãos . Trajando uma jaqueta de couro , com a minha navalha no bolso , eu sou a noite . Beco por beco , vielas , cada sombra , cada passo sorrateiro , um ínfimo feixe de luz tem o meu rastro . Você chora sob o olhar do monumento . Olha pro céu e não entende . Não entende nada . Pra quê entender ?
Eu faço o meu caminho . Apenas vejo o que está à minha frente . O passado jaz nas frações que perambulam nos íons do meu inconsciente . O futuro é um livro a ser escrito por alguém . Quem vai saber ? Não posso assinar a minha própria lápide .
Você tem medo . Eu sou o medo . Um raio delineando corpos perdidos , parece ter saído dos seus lábios escarlates . Bolsas giram como uma mente atordoada . Passam como os estranhos . Táxis . Quem são ?
Vai saber ?
Nada é o que aparenta ser por essas bandas ...
Misterioso e revelador . Escuridão farsante . Minha , múltiplas . As dores de todos . Todas as dores .
A energia flui . Solitária . Onipresença inexistente . A fenda se abriu . . .
Que loucura é essa ?
Psicodelia bicolor . As palavras perderam o sentido . Os versos não se encaixam . Recortes , retalhos . Um quebra-cabeças desarrumado . Desarranjo mental .
Pessoas riem e morrem . Pessoas andam . Pessoas dentro de casas . Pessoas gozando . Pessoas em leitos . Pessoas se negando . Pessoas se anulando . Pensando . . .
Urano , Netuno , Plutão . . .
Não há o zero absoluto .
Tempo , tempo , tempo . Milésimos , centésimos , décimos de segundos . Segundos , minutos , horas . Vinte e quatro horas têm mil quatrocentos e quarenta minutos . Caramba , é muito minuto !
É . É muito .
Quantos já se passaram ? Só calculando .
Quantos estão por vir ? Previsão inviável .
Sou o dono dos meus atos . Imperador das minhas causas . Refém dos meus efeitos . . .
Sobre o quê estou falando ?
Não sei . Mas , o que importa ?
Fui traído pela descontinuidade .
Contudo , a Lua reserva-me algo . Nem bom , nem mau . O que é preciso .
E assim , trocam-se os papéis , os anéis . Nada se perde . Nada se desintegra . Dá-se somente o que importa . É importante . Valioso para alguém .
Volto ao reduto e não me reconheço . Tenho frio , tenho fome , tenho medo . Sou um menino-homem de vários nomes . Dai-me qual achares melhor .
Ruas lúgubres . Retinas famintas , respiração felina .
O deserto é o inimigo . O silêncio assusta .
Máscaras , máscaras , máscaras . . .
Caem em gemidos no adormecer das penumbras . Ausência pelos cantos do centro da cidade .
Nada é o que aparenta ser por essas bandas ...

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