quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Viagens

Canto dos Orixás (Carlos Alberto de Pinho Junior)

"Camará mandou Capoeira lutar
Camará mandou Capoeira dizer Saravá . . ."

Parece que o tempo parou
quando se entregara ao ar
Jogando o jogo de Xangô
fazendo as honras à Iemanjá . . .

Não há coração tão distante
que não possa sorrir
Nem sentimento que morra
ao se ferir

Apenas siga os acordes do berimbau
O compasso das palmas
E salte como se o amanhã
já fosse o agora

Deixa ser . . .
O homem , às vezes , não sabe o que faz
Deixa ser . . .
Que a natureza é a rainha da paz

Olho você , verde horizonte
Gigante como o meu pranto ao crer
que filho meu nascerá tristonho
pois crescerá sem te conhecer

Apenas siga os acordes do berimbau
O compasso das palmas
E salte como se o amanhã
já fosse o agora

Salve !
Mareia , onda ! Mareia !
Só vive em amor um bom capoeira
Ouça o canto dos orixás
Cultive a amizade
e não morrerás


Crise , . . . (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Eu podia estar bolando
uma volta desesperada
aos braços acolhedores
aos beijos da minha amada

Restam as ações morimbundas
cadentes que tento vender
as bolsas derretem , fajutas
quanto a mirra podre pode valer ?

Pessoas perdem o teto
cortam da própria carne
arrancam três pontos d'alma
o preço ao apreço de tal liberdade

Facetas reais das notas
invisíveis escorrem
e somem n'algum lugar
não sei onde todos comem
não sei onde vou parar

Frente confusa , tonteira
a minha cabeça dói
ressaca de uma orgia financeira
O rato não avisa , rói


SOS-Natureza (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Natureza ,
vou chamar o pessoal pra te ajudar ,
estão caçando o que há e o que não há

Até o mico está com o cabelo em pé
e o leão está matando cachorro no grito
E eu grito , por favor :
Salvem a natureza . . .

A natureza de um olhar impessoal
A natureza de um sorriso natural
A natureza do teu corpo acolhedor
A natureza de um beijo de amor

A natureza de um rosto angelical
A natureza de um encontro casual
A natureza de um inocente sedutor
A natureza de tudo que tem valor

Natureza , vou chamar o pessoal pra te ajudar ,
estão caçando o que há e o que não há
Até o mico está com o cabelo em pé
e o leão está matando cachorro no grito
E eu grito , por favor :
Salvem a natureza . . .
Então , eu grito :
Por favor , salvem a natureza !


Ganância Suicida (Carlos Alberto de Pinho Junior)

O céu não é céu por acaso ,
nada foi criado num estalar de dedos
Deus não é deus por acaso ,
tudo foi criado pra enfrentarmos medos

Você sabe quento tempo levou
para saírmos do mar
para caírmos do galho

Temos que olhar pro futuro
e não parados em frente à T.V.
como espantalhos

O verde já não é tão verde
temos de cuidar do azul
O branco ? Ah , o branco está ficando nu

Pelos lados só se vê vermelho
Visão que eu não queria ter
dando mais certeza à certeza que é morrer

Deus nos acuda ,
Deus nos ajude ,
Deus , não polua !
Deus , preserve a natureza !
Cumpra todos os tratados
Não saqueie o planeta
Não faça o que nunca a gente faria

Matar o que resta de vida na fresta
da triste ironia perversa da cega ganância . . .
Suicida . . .
Suicida . . .
Suicida .


A cada despertar de manhã (Carlos Alberto de Pinho Junior)

Céu azul , água cristalina
Mata silvestre , ave-de-rapina
Garsas batem as asas:
Flâmula da Liberdade
Flores desabrocham ,
Cardumes seguem viagem

O sol faz do rio o seu prisma ;
o rio , do solo , reduto ;
o solo , do Índio , refém ;
O Índio , da selva , seu mundo

A selva é a mãe-natureza
Pulmão do Quilombo Brasil
Abraça a aurora do tempo
Assim como a um corpo febril . . .

Mas , que a angústia que sinto constante ,
seja , tão somente , uma febre terçã
E que eu veja este verde horizonte
a cada despertar de manhã . . .

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